Os dias de janeiro não apenas castigam o
corpo com o calor invasivo e lancinante, mas também proporcionam dias de
intensa vida, em que a alma desperta no crepúsculo do dia... Dias carregados de
realidade, de intensa e dolorosa reflexão... Não e só o corpo que arde, em
prefácio ao inferno, à alma sede aos poucos e se permite embriagar-se de si mesma,
ela não se basta em si... Anseia por caminhar em terras desconhecidas,
lançar-se sobre rios de correntezas bravias, escalar montanhas altas, nas quais
o ar rarefeito a faz sofrer, ter convulsões de quase morte...Estar próximo da
morte lhe gera vida...
Sofre da incompreensão humana... Compreendida
por poucos, desiste de entender-se segundo os ditames da razão, abstêm-se do
racionalismo... Os físicos, matemáticos, químicos, enfim os “lógicos”, homens
da ciência de morte e trevas a concebem como uma louca virgem, que sem poder
entregar-se a uma vida dos comuns, abstêm-se da concretude, entrega-se as
coisas que só um coração selvagem, uma alma inominável entende...
O
calor de janeiro entorpece o corpo num quase transe, mas a alma ali se encontra
vivificada pelo incômodo da matéria... Não perde seu ideal, mantendo-se fiel a
si, e sabendo que se fez para os assuntos do espírito...
Anseia pelo fim do dia, não apenas pelo leve
frescor que refrigera o corpo, anseia poder romper com a linha tênue e fina que
a mantém conectada com a realidade, com a objetividade dos homens-máquinas...
Respira profundamente, e em apenas uma expiração retira de si todo o peso que
estava sobre o seu peito, livrando-se de algo que nunca lhe pertencera, fruto
da “violência” que cotidianamente necessita submeter-se... Sente o coração leve
e cálido, ele volta a pulsar em vida... Nesse momento ele está ligada aquilo
que realmente a move... Percebe que buscar a si não é promessa da descoberta de
uma verdade fundamental... Esse ato de volta sobre si, comporta acima de tudo a
paixão de viver, a vontade de expandir...
Em tardes de janeiro, quentes e tépidas, de
ar abafado e dias em que o ar é insuficiente aos pulmões, e o verbo lhe falta e
a palavra lhe é roubada, o êxtase se faz presente quando a alma compromete-se
em buscar o seu sentido, não o porquê de sua existência, ela não deseja
respostas, mas quantas perguntas forem necessárias para poder provê-la de motivações,
de buscas, encontros e desencontros... Movimentos carregados de graça, mas
também impetuosos...
Em tardes de janeiro... AS PALAVRAS SOMEM...
VAGAM... ERRANTES E DESCONECTAS...
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