segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Newtonianos


Éramos duas forças diametralmente opostas... Quebramos um postulado físico: nos igualávamos em quantidade de forças, mas em nosso encontro cotidiano não nos anulávamos, ao contrário, nos fazíamos fortes... Em uma equação de solução infinita, éramos soma... Hoje somos subtração... vivemos em uma tarefa árdua e inconcluível, desfazer-nos de nos mesmos em tudo o que fomos...

Pique esconde...

A vida, criança indisciplinada e, por vezes inquieta e travessa, em dias de rebuliço e novidades, esconde-se...sabe lá a onde...

Escrita

Não escrevam em cadernos pautados! Eles possuem linhas retilíneas e limitadas, requerem uma quebra brusca, exigem conformação e formatação... Escolham as páginas puras, desprovidas de linhas, elas permitem liberdade e expressividade... Escritas horizontais e verticais... Rabiscos livres e desconectos, mãos que dançam sobre as folhas, em um doce musical de êxtase...

Medo!

Sentia-se possuído e assalto por uma força até então externa a si... Introjetando-se com veemência, o medo violava suas defesas, com brutalidade passeava entre suas instâncias subjetivas, tornando obtuso seus sonhos e distorcendo seus desejos. O medo aliava-se ao pânico e ao incerto, potencializando-se por meio de dúvidas e questionamentos intricados, rígidos e imobilizantes... O medo persistia e insistia com força descomunal, não permitia o contemplar de outros possíveis, com sutileza e sagacidade tentava engessar o espírito.  

domingo, 29 de janeiro de 2012

Terra Prometida

Você poderia ter sido patrimônio tombado em meu ser, cidade submersa em minha alma, recanto de vida e sossego, refúgio e terra produtiva... Éden de primazias e farturas... Porém, revoltou-se e escolheu expandir-se em mundos além daquelas que poderíamos juntos desbravar...

Velados...


Amanhã ELA retornará ao sepulcro, não para a morte física ou o aniquilamento da matéria, mas para sepultar a alma, que padece aos poucos, em dias nebulosos... A terra é úmida e infértil, ELE a sente cair sobre si, pesada, densa, sem forma... ELA não consegue se mover a respiração lhe é impossível, as moléculas de terra negra penetram-lhe as vias respiratórias, bloqueando lhe os alvéolos, contaminados agora, pela terra fétida que recobre a alma, outrora alva e incorruptível... ELE sente o corpo coberto, lhe resta a face nua, sente um peso no peito, começa a arfar, o ar falta, suspiros violentos, incontroláveis... ELA tenta mover-se, não consegue... A escuridão predomina, ELE encontra-se novamente aprisionado... ELES e tantos outros desejam voltar a VIVER... Ressuscitar é algo pertinente aos deuses... RENASCER, isso sim, lhes é humanamente possível e cabível!  

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Renascer, tornar a viver..

Sentia a vida começar a pulsar no peito, o coração acelerado impulsionava com força o plasma pelas veias e artérias, o sangue percorria o corpo trazendo calor e vida aos membros e órgãos... Os movimentos readquiriam graça e veemência... Estava RENASCENDO... A alma fundia-se novamente à carne, sentia-se uno, mas também múltiplo e plural... Não era mais um espectro, ser fantasmagórico entre os vivos... Renascia não das cinzas e do pó, mas das migalhas esmiuçadas  ao chão, dos frangalhos de sua existência... A vida retornava, e com ela toda a plenitude de sentir-se vivo!


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sacrifício

Oferecerei à Cérbero, o guardião do Hades - em sacrifício - todas as memórias e os retalhos de lembranças que me fazem rememorar o dia em que te conheci... Subtraí-la de mim se constituí em tarefa primordial para minha restituição humana.
O calor entorpece o corpo. Estabelece um estado de quase transe... Saudades do outono, e 

suas tardes mornas que prenunciam a noite fresca e úmida!

Suportar, SuPoRtAr, suportar³ e SUPORTAR...


As paredes exerciam uma compressão intensa, capaz de esmagar o peito, esboroar as costelas e esfacelar o coração. Elas o encarceravam em um ambiente quente e abafado, lugar de denúncia de sua condição. Mantinha-se distante das quatro paredes, pois estas ardiam, e também zombavam dele, suas vozes traziam um toque de escárnio e suas gargalhadas, penetravam em seus ouvidos, atingindo-o de imediato, sentia-se louco.
O papel e o lápis era a sua remição, a redenção gratuita, ao qual recorria em momentos e dias, em que alguma força maligna dava vida as paredes de seu quarto, fazendo com que as mesmas o torturassem, o fizessem sangrar, desejar intensamente furar os próprios tímpanos, mas essa não seria a solução adequada, pois as paredes com suas falas ressoavam na alma, conversavam com o espírito.
Escrever era o momento em que ele podia encontrar-se consigo, provar e retificar, em um quase empirismo às malditas paredes que sua existência condicionava-se além daquele ambiente. Uma fuga, mas também uma maldição, um momento de rebuliço psíquico, desordem subjetiva, um debruçar-se sobre si, estar no céu e descer ao inferno. Seus relatos eram límpidos e transparentes, não falavam de frivolidades ou banalidades, traziam uma carga pesada de si mesmo, a ponto d'ele quase sucumbir. Era quase um consumir-se em si, sentia-se próximo a psicose.
Sabia-se possuidor de características da ordem do “bem” e do “bom”, e isso o incomodava em dores lentas e agudas, queria encontra-se com a parcela do “mau” e de “mal” que sabia ter em si. Quando escrevia extasiava-se por purgar, externalizar aquela quantidade dele mesmo que lhe causava náuseas. Aos poucos as paredes cessavam sua força, calavam-se, emudeciam-se. Ao reler o que escrevia sentia-se ridículo, exacerbado e entregando-se a melancolia, lamentava a inconstância de suas fantasias, tão inadaptadas e carregadas de utopias. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Para à menina meiga dos olhos de muito amor...


  Quando minhas mãos trêmulas, fatigadas e cansadas não ousaram escrever, e por tal estado perderam o vigor e a vontade de fazer da vida uma poesia, suas mãos doces e cálidas pousaram sobre as minhas ... O amor que delas emanavam fez com que os rabiscos que estavam sendo produzidos em momentos de intensa ausência de felicidade e vida, se convertessem aos poucos em desenhos pulsantes e vibrantes... novas cores surgiram, a caligrafia readquiria uma nova forma, tecíamos juntos novos escritos... Fabricávamos em um quase frenesi, um novo texto, uma nova história... Seu punho não se impôs com força ou vulgaridade, mas com a firmeza necessária para que o cansaço fosse superado... Juntos fizemos versos, estrofes, com e sem rimas, exploramos a estilística e também inventamos o que hoje nos pertence... As interrogações que usávamos me fizeram refletir, e consequentemente dar fim as distorções de pensamento... As reticências expressam o não dito, aquilo que a palavra escapa... As exclamações eram alegria, susto, espanto, choro, são a vida! Existem ainda muitas páginas por vir... paramos não por cansaço ou  término, mas para sentirmos um no outro essa aprendizagem... A vida nos inundou com tanta força e impetuosidade, que nesse presente estamos imersos em prazeres antes nunca vivenciados... Vivemos extravagantemente! 

domingo, 22 de janeiro de 2012

Práxis

Insensato para comigo mesmo nos assuntos da alma... no limiar do bom senso, todavia, buscando um fluxo violento e intenso de águas cristalinas e frescas... movimentos leves e dotados de graça, me levarão a novos espaços, a novas construções e fazeres... Viver é mover-se, colocar-se em percursos desenhados por nossa própria arte... Eis há "Práxis Humana"

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Boneca de Pano


         Aprendera que para SUB-existir entre os desumanos teria que viver de paliativos, prazeres substitutivos, emoções plásticas e descartáveis, sentimentos desprovidos de vigor e frescor... Cotidianamente sepultava o amor, não se sentia uma homicida, pois lhe era totalmente necessário dar fim ao Eros que pulsava em si... Amar não lhe era benção, mas maldição...
         Não havia encontro, mutualidade, correspondência, apenas raros momentos envoltos em banalidades e porções de carnalidade... Sobreviver era sua meta... Morria em dias de desamparo, desesperança e melancolia... Seu corpo biológico funciona em harmonia, os membros movimentavam-se, as glândulas secretavam, enzimas eram produzidas... Era daqueles seres que andam e falam, mas já estão mortos e embrutecidos... Sua alma não produzia poesias... O que lhe restava então?... Nem mesmo o nada, pois o se o nada persiste, ele denuncia a ausência de algo que já se fez presente... Até então não tinha experimentado o amor, tão necessário para impulsionar a vida... Para estremecer e confrontar sua existência/desistente...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

...Tardes de Janeiro...


Os dias de janeiro não apenas castigam o corpo com o calor invasivo e lancinante, mas também proporcionam dias de intensa vida, em que a alma desperta no crepúsculo do dia... Dias carregados de realidade, de intensa e dolorosa reflexão... Não e só o corpo que arde, em prefácio ao inferno, à alma sede aos poucos e se permite embriagar-se de si mesma, ela não se basta em si... Anseia por caminhar em terras desconhecidas, lançar-se sobre rios de correntezas bravias, escalar montanhas altas, nas quais o ar rarefeito a faz sofrer, ter convulsões de quase morte...Estar próximo da morte lhe gera vida...
Sofre da incompreensão humana... Compreendida por poucos, desiste de entender-se segundo os ditames da razão, abstêm-se do racionalismo... Os físicos, matemáticos, químicos, enfim os “lógicos”, homens da ciência de morte e trevas a concebem como uma louca virgem, que sem poder entregar-se a uma vida dos comuns, abstêm-se da concretude, entrega-se as coisas que só um coração selvagem, uma alma inominável entende...
O calor de janeiro entorpece o corpo num quase transe, mas a alma ali se encontra vivificada pelo incômodo da matéria... Não perde seu ideal, mantendo-se fiel a si, e sabendo que se fez para os assuntos do espírito...
Anseia pelo fim do dia, não apenas pelo leve frescor que refrigera o corpo, anseia poder romper com a linha tênue e fina que a mantém conectada com a realidade, com a objetividade dos homens-máquinas... Respira profundamente, e em apenas uma expiração retira de si todo o peso que estava sobre o seu peito, livrando-se de algo que nunca lhe pertencera, fruto da “violência” que cotidianamente necessita submeter-se... Sente o coração leve e cálido, ele volta a pulsar em vida... Nesse momento ele está ligada aquilo que realmente a move... Percebe que buscar a si não é promessa da descoberta de uma verdade fundamental... Esse ato de volta sobre si, comporta acima de tudo a paixão de viver, a vontade de expandir...
Em tardes de janeiro, quentes e tépidas, de ar abafado e dias em que o ar é insuficiente aos pulmões, e o verbo lhe falta e a palavra lhe é roubada, o êxtase se faz presente quando a alma compromete-se em buscar o seu sentido, não o porquê de sua existência, ela não deseja respostas, mas quantas perguntas forem necessárias para poder provê-la de motivações, de buscas, encontros e desencontros... Movimentos carregados de graça, mas também impetuosos...
Em tardes de janeiro... AS PALAVRAS SOMEM... VAGAM... ERRANTES E DESCONECTAS... 

sábado, 14 de janeiro de 2012

Conjunção CoNcEsSiVa



“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente." 

Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres.



... E quantas concessão nos permitimos para que a vida continue viva... para que possamos respirar e retomar o fôlego... Alguns eventos quase nos fazem sucumbir... "Apesar de", "Embora", "Ainda que", continuamos vivos e dando continuidade a nossa maior e sublime arte, que é viver e superar os encalços de nossas existências...

domingo, 8 de janeiro de 2012

...Viagem...

Gostaria de poder fazer uma viagem...
Para qualquer lugar perdido no mundo.
Um momento que me proporcionasse um encontro comigo mesmo, em que eu pudesse rever meus conceitos e anseios, e resgatar dentro de mim mesmo tudo aquilo que as circunstâncias desagradáveis insistem em sufocar...
Rever amigos no meu íntimo e relembrar tudo o que aprendi com eles. Dentro de mim não existe corrupção física, até aqueles ausentes no plano material, fazem-se vivos ali, trazendo a mesma graça e vivacidade que sempre trouxeram consigo...
Distanciar-me um pouco desses fatores externos que insistem sobre mim, torando-me um desconhecedor do meu próprio eu...
Fechar meus olhos, apertar minhas pálpebras com toda a intensidade possível e mergulhar dentro de mim mesmo, apaixonar-me outra vez por mim, enlouquecer nesse gozo que é a vida...
Sorrir de mim, tocar-me, sentir cada parte de meu próprio corpo... Unifica-lo ao meu eu.
Se essa viagem me proporcionasse o mar, desenharia minha face por diversas vezes na areia e veria o mar, com toda a sua bravura, força e poder desfazer o que minhas pequenas mãos haviam feito... Desenharia diversas vezes e riria todas as vezes que o mar insistisse em me ver empenhado nessa tarefa, brincaríamos e nos divertiríamos assim por uma tarde inteira...
Caminharia incessantemente e faria de tudo para ver a maior quantidade possível de faces humanas, afinal, as pessoas são belas e independente de suas crenças e descrenças, amá-las-ia não por obrigação religiosa ou humanismo, mas por suas diferenças... Sim me apaixonaria pelas diferenças que elas possuem... Amar aquilo se apresenta diferente a mim, é algo sublime, e saber que ali no aparente “extremo oposto” encontro um pouco de mim.
Não preciso de um lugar fantástico, silencioso ou enigmático/místico, apenas acolhedor... Não espero por milagres, o trabalho de encontrar-me pertence a mim... Os mapas que me deram eu despedacei como um criança ao rasgar o papel que encobre seu presente...
Essa viagem pode me ser dolorosa, mas sumariamente gratificante e enternecedora... Quanto a me perder no caminho, isso não temo, às vezes e necessário perder-se, não para efetuar uma volta à trilha, mas para um novo caminho, um novo recomeço...
Percurso tortuoso, até então nunca desbravado por outros, percalços me aguardam, sim eu sei... Mas independente daquilo que ainda não posso nomear sei que essa viagem é portadora de um sentindo, de um constante encontrar-se consigo... Ela não termina hoje, não há data fixa...
Se quiseres me acompanhar lhe dou a mão, mas depois será você por si próprio... Em breve  nos encontraremos... certos e incertos de quem somos...





Domingo abafado...

...Uma mísera quantidade de tudo onde o nada impera... não existe essa possibilidade... Transcender o humano e buscar em si, aquilo que lhe permita viver... e isso não exclui o "metafísico" (além do físico, o espiritual)...