quinta-feira, 14 de julho de 2011

...O cógito existencial... a angústia motivadora...



    ...Descartes (1596-1650) criador da doutrina racionalista, atribuía à Razão humana a capacidade de estabelecer a verdade, rejeitando qualquer intervenção dos sentimentos. Para instiuir o real conhecimento, o filósofo convoca o ser a dúvidar de todas as coisas. Após duvidar de tudo, descobre-se a primeira certeza: o "Cogito, ergo sum"  - Penso, logo existo."  É por meio da dúvida metódica que se é possível obter o verdadeiro conhecimento, bem como estabelecer a certeza da existência do ser, pois se há um ser que dúvida, consequentemente sua existência é comprovada, por meio de sua capacidade de duvidar.
    Essa pequena introdução do pensamento cartesiano não foi aqui colocada por uma eventualidade ou meros motivos...há nesse ato um objetivo... 
    Há poucos dias, lançei-me sobre minhas fotos de infância e pude observar como meus olhos eram carregados de melancolia e tristeza.... essas imagens evocaram outras lembranças que provavelmente seriam as possíveis causas daquele olhar inexpressivo, profundo e notadamente "sem vida"... Lembrei-me também que nessa fase, aos dez ou onze anos, frequentemente eu me posicionava perante ao espelho, atingia um certo nível de abstração e questionava-me sobre a minha própria existência, se tudo o que eu via diante de mim realmente existiam, pois naquele período minha existência era algo penoso e lacinante...
    O que tem haver o cogito cartesiano e minhas questões existenciais? ...eis aqui o ponto de encotro e também desencontro... Descartes descobre a existência do ser, buscando estabelecer o conhecimento absoluto, sua motivação fundava-se sobre o racional. Eu, obtive a certeza de minha existência, por meio da angústia, faço aqui então meu postulado, minha máxima: "Angustio-me, logo existo". O ser que pode ter sua alma molestada pela angústia de existir (é isso traz consigo uma série de outros questionamentos), obtém a certeza de sua existência. 
    Pergunta-se pois: Porque logo a angústia, para certificar a existência do ser?? Simplifico tudo aqui: Ao meu ver, somos seres fadados a angústia, que persegue o Homem. Diferentemente dos outros seres vivos, o ser humano tem a missão de constantemente buscar por um sentido, um significado. Nossas existências são permeadas por questionamentos, perpassadas por perguntas que talvez nunca serão respondidas (em alguns casos, confesso que não desejo saber as respostas). 
    A angústia se estabelece aqui, como certeza existencial, e também faço dela motor propulsor da vida...isso para muitos pode parece desconexo e incoerente, pois em tempos hedonistas, todos buscam o prazer ao máximo, e querem se ver livre de suas dores e incômodos... Mas não se esqueça que é por meio da angústia que o homem coloca em prática sua inventividade, foi na busca pelo controle do devir (aquilo que ainda virá, e não se pode nomear...sendo em grade medido motivo de angústia) que se foi possível criar e recriar forças trancedentais, capazes de escrever histórias, e também oferecer uma continuidade ante a finitude humana (a ideia do finito ao meu ver surge quando o homem perante a morte descobre sua finitude, que em grande medida lhe é desprazerosa, então em mais um jogo dialético, de confronto de opostos, surge a ideia de infinito). Conclu-o que a angústia é um fator motivador de criatividade, contribuindo para o estabelecimento de forças metafísicas, que para muitos são motivos de existência, e dão significado à suas vidas.
    Sinto-me privelegiado por ter sido atormentado por esse sentimento "precocemente", por meio dele, além de saber de minha existência, e não podendo fugir de sua certeza, fui resignificando alguns pontos em minha vida, e fazendo dela de minha angústia força motivadora... Acredito ser um erro obliterar a angústia, se defender dela, adiar o enfrentamento...Por meio dela, posso construir, descontruir, significar, ressignicar... Uma existência torna-se superficial, quando não é capaz de efetuar um mergulho dentro de si própria, buscar o desenvolvimento de um EU criativo, em constante conexão consigo mesmo...Um Eu capaz de saber o que ser quer de si e do outro... Angustiar-se é revoltar-se contra tudo o que é "normal" é monótomo, e sentir-se motivado a buscar respostas ou situações que sejam capaz de trazer sobre si  novas situações, que possibilitem o estabelecimento de novos caminhos, de fugas  necessárias...
    A vida é um constante devir, que traz consigo inúmeras experiências e significações, e essas características existencias, caem sobre o Homem, fazendo com que ele se angustie... enfrentar sua finitude, suas decepções cotidinas, sua afetividade aos frangalhos, se constitui como tarefea árdua e laboriosa...
Fica aqui então o convite, não para o desenvolvimento de uma personalidade melancólica, mas de um Eu dotado de multimotivações...expressivo e consciente de suas potencialidades, capaz de fazer de seus "fantasmas", forças propulsoras para o novo... Não se permita estabelecer limites... Enfrente suas questões, pois TODA EXISTÊNCIA É VIVIDA EM SEU MÁXIMO, QUANDO SE PERMITE EXPERÊNCIAR SUAS MÚLTIPLAS FACETAS, FAZENDO COM QUE SE TRANSITE POR LUGARES DECONHECIDOS, PROMOVENDO MOVIMENTOS,  PERMITINDO IDAS E VOLTAS, QUE PREENCHEM O VIVER DE INTENSIDADE...

terça-feira, 5 de julho de 2011