As
paredes exerciam uma compressão intensa, capaz de esmagar o peito, esboroar as
costelas e esfacelar o coração. Elas o encarceravam em um ambiente quente e
abafado, lugar de denúncia de sua condição. Mantinha-se distante das quatro
paredes, pois estas ardiam, e também zombavam dele, suas vozes traziam um toque
de escárnio e suas gargalhadas, penetravam em seus ouvidos, atingindo-o de
imediato, sentia-se louco.
O
papel e o lápis era a sua remição, a redenção gratuita, ao qual recorria em
momentos e dias, em que alguma força maligna dava vida as paredes de seu
quarto, fazendo com que as mesmas o torturassem, o fizessem sangrar, desejar
intensamente furar os próprios tímpanos, mas essa não seria a solução adequada,
pois as paredes com suas falas ressoavam na alma, conversavam com o espírito.
Escrever
era o momento em que ele podia encontrar-se consigo, provar e retificar, em um
quase empirismo às malditas paredes que sua existência condicionava-se além
daquele ambiente. Uma fuga, mas também uma maldição, um momento de rebuliço
psíquico, desordem subjetiva, um debruçar-se sobre si, estar no céu e descer ao
inferno. Seus relatos eram límpidos e transparentes, não falavam de
frivolidades ou banalidades, traziam uma carga pesada de si mesmo, a ponto d'ele quase sucumbir. Era quase um consumir-se em si, sentia-se próximo a
psicose.
Sabia-se
possuidor de características da ordem do “bem” e do “bom”, e isso o incomodava
em dores lentas e agudas, queria encontra-se com a parcela do “mau” e de “mal”
que sabia ter em si. Quando escrevia extasiava-se por purgar, externalizar
aquela quantidade dele mesmo que lhe causava náuseas. Aos poucos as paredes
cessavam sua força, calavam-se, emudeciam-se. Ao reler o que escrevia sentia-se
ridículo, exacerbado e entregando-se a melancolia, lamentava a inconstância de
suas fantasias, tão inadaptadas e carregadas de utopias.
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